segunda-feira, 5 de março de 2012

Desarmamento...

Sem bola para ganhar nem Copa América, o Brasil é campeão mundial de hipocrisia. O seu topo no ranking ninguém toma e a liderança é devedora a uma ideia digna do Febeapa, o antigo Festival de Besteiras que Assola o País, do saudoso Sérgio Porto, o escritor Stanislaw Ponte Preta, rei da sátira que teria muito a produzir não tivesse morrido em 1968. A nova Campanha do Desarmamento garante os pontos brasileiros no hipocritocampeonato.
Por aqui, fecha-se a casa após o assalto. Toma-se a medida após o desastre. Houve o massacre de Realengo e a campanha foi retomada sob afetado entusiasmo dos engajados subsidiados e fantasiados de humanistas.
Um sádico saiu matando na Noruega e teve-se a genialidade dos intelectuais de sovaco(só lêem orelhas de livro), de retomar o assunto, apontando o uso de armas de fogo como causa da expansão da violência.
Armas de fogo são perigosas. Matam. São o ponto final da tragédia que começa na falta do básico oferecido ao poder público para que a criança não tenha que dela se utilizar. Escolas decentes, moradias com o mínimo de dignidade (saneamento, higiene, infra-estrutura), postos de saúde e hospitais públicos funcionando e vagas de trabalho para todos.
Acontece que o Brasil real de hoje é um país em guerra e nós, os cidadãos comuns, estamos no meio dela. É ganhar ou perder. Mata-se por prazer cruel, político usa delinqüente de cabo eleitoral para se eleger e pregar a violação dos direitos dos verdadeiros humanos. O país sonhado pelos teóricos será vivido, quem sabe, pelos meus tataranetos.
A hipocrisia é a cereja no bolo azedo. Quando um drogado assalta uma mulher de classe média guiando seu carro em uma esquina, atacando a ela e a seu filho pequeno com um caco de vidro grudado ao seu frágil pescoço, há comoção.
Quando outro drogado toma a pistola de policiais despreparados e mata um deles dentro de um ônibus em frente a um movimentado Shopping Center da cidade e é morto em seguida, os engajados sentem mais a morte do bandido do que a do agente mal treinado que se deixou dominar e perdeu a sua arma que, para o policial, é tão importante quanto a direção de um ônibus escolar lotado para um motorista.
O direito ao uso de armas deve ser combatido depois que for exterminado seu porte por aqueles que afrontam a sociedade e não atendem a campanhas publicitárias bem acabadas.
Há o criminoso ocasional, que mata numa circunstância, para defender um filho atacado, ou a si próprio ameaçado por outro que tenta estuprar sua mulher. E existe o marginal de placenta.
O facínora de ventre é incurável. Jamais terá efeito uma campanha de desarmamento que o faça se arrepender de matar depois de roubar. Estuprar e esquartejar cadáveres. Assassinar famílias inteiras e depois incendiá-las.
São incuráveis. É hipocrisia, sim, imaginá-los em fila indiana, cabisbaixos, comparecendo aos postos de entrega da campanha e, educadamente, repassando seu arsenal por alguns reais.
Traficante de droga, financiado por consumidor que tem dinheiro, compra armamento pesado no exterior. Essas armas entram no Brasil por não haver rigor na fiscalização de fronteiras. Longe de achar que é por corrupção, não.
Estou, conformado, sentado numa cadeira de palha do Febeapá. É lindo viver num país em que a algema é mais grave do que o crime. É imaginar Gary Cooper, com um buquê de flores defendendo sua cidade no duelo histórico e final do clássico Matar ou Morrer, Grace Kelly de mocinha.
A Campanha do Desarmamento garante ao Brasil um primeiro lugar no mundo. O primeiro lugar na paz baseada em verbo pusilânime. O cidadão de bem para conseguir sua arma cumpre regras rigorosas. É fiscalizado e registrado nos órgãos competentes.
O crápula nasceu, por filosofia genética, para driblar legislações. Ele não entrega suas armas. É um fora da lei. Eu cumpro a lei. Estou rigorosamente em dia. E não entrego as minhas também. Sou um cidadão e quero a hipocrisia na lanterninha.
PS. Sou atirador prático desportivo certificado e inspecionado sob o número 52.581 do Exército Brasileiro e também registrado no Departamento de Polícia Federal. Cumpro a lei, bandido, não.

Rubens Lemos Filho
Jornalista

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